Os gatos do Cemitério da Saudade

 

Antonio Oswaldo Storel

 

        Há longo tempo ouço falar, sem muitos detalhes, dos gatos do Cemitério da Saudade. Assim como eu, acho que muitos piracicabanos também já ouviram alguma coisa a esse respeito. Mas a curiosidade me foi despertada em saber porque razão os gatos vão parar no Cemitério, o que os faz permanecer por lá e como sobrevivem.

        Mas a minha curiosidade transformou-se em espanto no dia em que uma amiga de longa data e que é uma das protetoras voluntárias desses animais, me contou algumas coisas: que lá no Cemitério da Saudade vivem, atualmente, cerca de 800 (oitocentos) gatos e que eles vão parar lá porque as pessoas os levam, inclusive filhotes em caixas de papelão! E que esse número vai aumentando dia a dia.

        E aí, o meu questionamento: “Mas como é que todos esses gatos se alimentam?” E a informação de minha amiga: “Eles são alimentados com ração por pessoas voluntárias que lá comparecem diariamente.” Fiquei sabendo que a própria Prefeitura, responsável pelo Cemitério da Saudade, fornece uma parte da ração necessária mas é preciso que os(as) voluntários(as) realizem campanhas para arrecadar recursos financeiros para comprar a alimentação que falta. Os recursos financeiros também são utilizados para proceder a castração dos animais, afim de tentar evitar que a procriação se desenvolva dentro do local, o que não deixa de ser um objetivo difícil de ser atingido.

        O questionamento é: “ Porque o Setor especializado da Prefeitura não assume a organização de um planejamento para a execução desse procedimento, sem custos para as(os) voluntarias(os)?

        Foi-nos relatado também que uma das protetoras voluntárias adquiriu uma casa nas proximidades do Cemitério para transformá-la em abrigo  onde estão atualmente 80 (oitenta) gatos devidamente castrados, com uma pessoa contratada para cuidar de tudo, do local e dos animais.

        Eu, como qualquer outra pessoa  ao ouvir um relato como esse, fiquei preocupado com o crescimento do numero de animais naquele local e passamos a conversar sobre algumas ideias para tentar a solução do problema pois, a continuar assim, dentro de algum tempo esse numero terá dobrado. Além do mais, parece-nos que o Cemitério não é o local adequado para desenvolver uma criação de gatos na cidade.

        A primeira ideia foi no sentido de unir todas as pessoas  ou grupos que atuam de alguma forma nesse serviço, sob uma mesma coordenação e organização  de uma entidade com personalidade jurídica que possibilite o recebimento de recursos públicos, sob orientação técnica profissional específica  para a elaboração de um plano contendo ações e metas a serem colocadas em prática  no curto, médio e longo prazo, objetivando a solução definitiva do problema. Chegamos à conclusão de que isso não é nada fácil!.

        Lembro-me de uma época em que fazia caminhadas matinais pelo Campus da ESALQ, que passava pelo mesmo problema, e eu assistia, logo depois do clarear do dia, pessoas pescando com peneiras e redes nos lagos e jogando os peixinhos para os gatos comerem. Não tenho conhecimento de qual estratégia foi utilizada lá, mas sabe-se que o problema da existência de gatos acabou.

        Parece lógico que no Cemitério, a primeira providência seria evitar que novos animais sejam levados para lá, estabelecendo rigorosa fiscalização na entrada das pessoas. A outra seria promover uma campanha para castração em massa, envolvendo o Poder Público, através de seu órgão competente, na coordenação.

        Enfim, o problema dos gatos do Cemitério da Saudade está a exigir, por parte do Governo Municipal, providenciar uma Política Pública com planejamento, metas e coordenação, integrando todas as pessoas, grupos ou entidades envolvidas para que não se continue com ações individuais isoladas que, apesar de toda a boa vontade que permeia esse voluntariado, são incapazes de deter o crescimento do número de animais naquela situação.

 

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Antonio Oswaldo Storel, ex-vereador, ex-presidente da Câmara Municipal – assessor parlamentas da Câmara Municipal

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