Jose F. Höfling
Precisamos entender melhor como funciona nosso cérebro! Apesar das inúmeras pesquisas sobre esta parte de nosso corpo, ainda estamos no primeiro degrau da escada no entendimento sobre o seu funcionamento… e se falarmos sobre a consciência então sai de baixo. De repente, o que é falso, ou seja, contrário à realidade, inexato ou sem fundamento, passa a ser tido como verdadeiro, seguro, genuíno? Um remédio falso pode ser tão eficaz quanto o verdadeiro?
Estou me referindo sobre o que acontece na sociedade de modo geral, mas podemos fazer uma analogia com o chamado “placebo”, aquilo que se toma sem saber que é falso, ou seja, que se toma fazendo de conta que é verdadeiro, sem saber que não é nada…apenas açúcar e água…Como isso funciona exatamente? O chamado “placebo”, pode ser um comprimido de açúcar, uma injeção de solução salina ou um copo de água colorida sem conter qualquer substância ativa que possa produzir reações fisiológicas…mas pasmem…é muito comum produzirem sim!!! Na verdade, cada vez mais esse fenômeno se repete, a tal ponto que o placebo se torna mais “poderoso” do que as substâncias ativas.
O chamado “efeito placebo” ocorre quando o cérebro convence o corpo de que um tratamento falso é autêntico, o que estimula o alívio, ou seja a cura! Em alguns casos, o medicamento real não supera mais o “placebo”, o que significa que o placebo passa a ser o remédio que cura…O quê?!! O falso passa a curar no lugar do verdadeiro?! Como isso é possível? É de arrepiar, não é? Em boa medida esse fenômeno ainda é um mistério…Se confirmou que a simples percepção de que estamos sendo tratados afeta a mesma parte do cérebro que processa as sensações físicas, como os sintomas, chegando ao ponto de que há melhoras significativas quando só se ministra o “placebo”.
As evidências mostraram que, quando o placebo funciona, a expectativa tem um papel importante…se achamos que o comprimido pode curar, é muito provável que cure mesmo!! E vejam só, se descobriu que o “placebo” funciona mesmo que saibamos o que está sendo tomado! Que este usa no cérebro a mesma via neurológica da medicação, sendo que a reação ao placebo é como uma memória farmacológica que ativa a mesma parte do cérebro. A propósito, o efeito placebo está mesmo crescendo ao ponto de se pensar em substituir os medicamentos pelo placebo?! Do ponto de vista Social e Político estaria acontecendo algo semelhante? Mentiras, falsidades, fatos inverídicos no lugar de verdades ou meias verdades, ao ponto de o falso poder até mesmo suplantar o verdadeiro e as pessoas tomarem isso como um fato positivo, mesmo que saibam o que estão colocando dentro do cérebro como verdadeiro? Temos podido constatar na sociedade a mesma retórica, a mesma falácia de que mentiras constatadas como inverdades passam a ser “verdades absolutas” sem que não haja a mínima possibilidade de constatação…é o mesmo terço sendo rezado por uma boa parte da população que não aceita sequer conversar ou discutir sobre o assunto.
Em algumas pesquisas, o medicamento real não supera mais o placebo. Será que é isso que irá acontecer com a nossa sociedade? Seremos consumidos pela mentira, pela lábia de políticos inescrupulosos, antidemocráticos, que não respeitam o meio ambiente, que abrem as porteiras para o ganho e o lucro a qualquer custo, que permite que agrotóxicos já não aceitos em outros países sejam usados no Brasil, sem pensar nas consequências, que não respeitam os demais poderes que nos regem, que riem das fatalidades que acometem a sociedade, que não tem história de ganhos sociais para uma população carente de emprego, de alimentos e de cuidados com a saúde que chegam a demonstrar comportamentos xenofóbicos, racistas, pedofilia e totalmente desrespeitosos com gêneros outros, populações indígenas, nossos ancestrais desse país…enfim, a lista é enorme! Quem explica uma coisa dessas? O falso tomando conta do verdadeiro? Há quem diga que o placebo usa no cérebro a mesma via neurológica da medicação.
A reação ao “placebo” é como uma memória farmacológica que ativa a mesma parte do cérebro?! Os “placebos” são tão bons quanto os remédios? Então temos que perguntar: que consequências nefastas e danosas a incorporação do falso como verdadeiro em nossa sociedade poderá tornar o nosso País uma republiqueta, desacreditado pelo resto do mundo e no qual teremos sérias dificuldades de sobreviver, particularmente os mais necessitados? Como o “placebo”, o que acontece na sociedade está cheio de mistério e incógnitas que nos deixam atônitos, sem esperança, contando com o pior… ”A veracidade do falso” tem sido a norma. Quem não viu, verá, pois o tempo é o senhor do universo!
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Jose F. Höfling, professor universitário