José Otávio M. Menten
Fitopatógenos, agente causais de doenças de plantas, podem se associar a sementes e materiais de propagação vegetativa causando prejuízos a produções. Fungos bactérias, vírus e nematoides podem se estabelecer nas sementes na forma de infecções (unitariamente), contaminação (aderidas a superfície) e contaminação concomitante as infestações (acompanhando o lote). Este ramo da ciência, denominada patologia de sementes, resultado da união dos conhecimentos de fitopatologia com a tecnologia de sementes, vem evoluindo no Brasil a partir de 1960. Os testes de sanidade de sementes e o tratamento de sementes vem sendo cada vez mais utilizados no Brasil e no mundo, contribuindo para o manejo integrado de doenças (MID).
A importância da associação patógeno-semente é evidenciada pela maior sobrevivência e manutenção da patogenicidade, facilidade de disseminação e infecções precoce. Existem relatos de sobrevivência de patógenos por mais de 30 anos quando associadas a sementes. Estes patógenos podem ser detectados e identificados através de testes específicos, onde se mede sua incidência (%semente portadoras de cada patógeno). O “potencial de inóculos” (severidade na quantidade por semente) também pode ser mensurado.
A avaliação da qualidade sanitária das sementes ainda é muito restrita no Brasil, tanto para sementes próprias/salvas. Assim, os tratamentos a que são submetidas as sementes nem sempre são os mais adequados. É muito importante lembrar que o tratamento de sementes tem como objetivo o controle dos patógenos presentes nas sementes, mas também os presentes no solo e durante o armazenamento.
Uma linha importante de pesquisa em patógeno se sementes é a medição dos danos causados pelos patógenos associados às sementes. Livro recente, editado e 2020 por Ravindra Kumar e Anuja Gupta, pela Springer, traz relações de importantes patógenos associados a sementes de 44 espécies cultivadas. A parte I desta publicação trata dos “impactos de patógenos associados a sementes na agricultura e na sociedade”.
Na literatura nacional e internacional são encontradas diversas referências mostrando que sementes portadoras de patógenos causam perda de 10 a 20% em soja no Brasil (GOULART, 2018), até 10% em olerícolas, no Paquistão (CHOHAN, 2017) e 15 a 90% em sorgo (GEBEYAW, 2020), REHMAN e col. (2021) citam que a redução do rendimento em milho varia de 0 a 40% devido a Colletotrichum graminicola, 10 a 30% devido a Aspergillus flavus, 20 a 30% devido a Macrophomina phaseolina, 10 a 15% devido a Cescopora zeae-maydis, 10% devido a Ustilago maydis e 30 a 50% devido a Bipolaris maydis. SAVARY et al. (2000) citavam que, em arroz, Xanthomonas oryzae pv. oryzae associada a sementes causam redução de rendimento de até 0,6%, Rhizoctonia solani de 5 a 10%, Helminthosporium oryzae de até 10%, Magnaporthe oryzae de até 2,1% e Sarocladium oryzae de 1,3 a 7,3%.
Um dos danos mais relevantes causados por patógenos a sementes é a introdução de novas espécies ou genótipos em ___ livres. São patógenos quarentenários. Uma vez estabelecida uma nova doença, ocorrem drásticas modificações no manejo dos cultivos afetados, incluindo a adoção de medidas de controle, alterações nos programas de melhoramento, etc. No Brasil, embora seja difícil a comprovação cientifica, existem diversos patógenos que deve ter sido introduzidos nas sementes, como Heterodera glycines (nematoide do ___ da soja), o Phomopsis phaseoli t.sp.meridionalis (cancro da haste de soja) e Bipolaris maydis raça T (helmintosporiose do milho).
Outro efeito prejudicial que os patógenos associados às sementes podem causar é a redução de estande, devido a não germinação (morta) da semente se o tombamento/ dumping-off”, do pré como da pós emergência, pela ação de fungos como Aspergillus spp, Penicillium spp, Fusarium spp, Phomopsis spp,Macrophomina phaseolina spp, Rhizoctonia Solani, Drechslera/ Bipolaris spp, Colletutrichum spp e Alternaria spp. Este efeito é bastante influenciado pelas condições desfavoráveis à germinação das sementes e emergência das plântulas, como temperatura, umidade, semeadura e preparo do solo inadequados. É sabido que a redução do número de plantas __ afeta o rendimento. No caso da soja, a cada uma planta o mesmo por m 2 reduz em 6% o rendimento, o que significa que a redução de cada 3,0 – 3,5 pontos percentuais no estande causam perda de três a quatro sacas na produção. Assim, cada 1 ponto percentual a menos no estande significa redução de rendimento de 1,8%.
Existem patógenos e condições que não causam redução do estande, mas debilitam as plantas, prejudicam seu vigor, tornando-as menos produtivas, mais vulneráveis a doenças e insetos e mais sensíveis a estresse abiótico. São patógenos como Phomopsis spp, Fusarium spp, Oxysporum, Verticillium spp, Drechslera/ Bipolaris spp, que causam podridões radiculares, lesões no colo e haste, infecções vasculares, diminuindo a altura, porte e intensificando as deficiências nutricionais.
Problema frequentemente e de difícil compreensão e mensuração se refere a semente se construir em veículo do inóculo inicial de doenças epidêmicas.
A semente é, sem dúvida, o agente mais eficiente de transporte e disseminação de patógenos a longas distâncias. Outros agentes, como vento, água, insetos, vetores e equipamentos agrícolas são relevantes a distância mais curta. Além disso, os patógenos ficam mais protegidos nas sementes e são uniformemente distribuídos durante a semeadura. Existe um caso emblemático, o carvão do trigo, que só infecta uma planta se o agente, Ustilago tritici, estiver infectando o embrião da semente. Mas a maioria dos fungos e bactérias, vivas e alguns nematoides podem ser transmitidas para as plântulas/ plantas quando transportadas por sementes. A transmissão semente-plântula é a maneira da doença se iniciar o mais cedo possível no campo. E quanto mais cedo a doença surja, maior a possibilidade de quantidade da doença atingir altos níveis nas fases críticas da cultura (estádio reprodutivo), causando maior redução no rendimento.
Os patógenos associados às sementes ainda podem alterar o aspecto das sementes, depreciando o produto, como a mancha púrpura e mancha café na soja, manchas de Colletrotrichum em sementes de feijão e alterações da coloração normal de sementes de trigo, arroz e milho causadas pela ação de Bipolaris spp., Alternaria spp e Fusarium spp.
Dai a necessidade de se estabelecer padrões de sanidade de sementes: determinar as incidências máximas aceitáveis de patógenos alvo em cada hospedeiro.
Desde a década de 1990 este assunto vem sendo discutido, mas ainda não houve um consumo quanto as vantagens do seu estabelecimento oficial, embora seja utilizado no controle de qualidade pelas empresas produtoras de sementes.
Em trabalhos recentes, realizados no laboratório de Patologia de Sementes da UFLA (Universidade Federal de Lavras – MG), foram estimadas a redução do estande e do rendimento da soja pela utilização de sementes portadoras de Colletotrichum truncatum (___), Fusarium pallidoroseum (F. ____) (fusariose), Phomopsis sojae (seca da haste e de ___) e Rhizoctomia solani (tombamento/ morta em robuleira). O desempenho de sementes inoculares artificialmente comparada a de semente sadia ( não inoculadas) e de sementes inoculares tratadas com fungicidas. Foram utilizadas as doses recomendadas de um produto comercial e de um experimental.
A tabela 1 mostra que sementes tem 24% de incidência de Colletotrichum truncatum Causam 17,7% de redução do estande e 48,5% de redução no rendimento, comparando com o desempenho de plantas provenientes de sementes livre do patógenos. O tratamento de sementes mostrou eficiência de 77%, reduzindo a incidência de 24% para 5.5%. Sementes tratadas proporcionaram aumento do estande em cerca de 30%, e aumento do rendimento em 95-101%. Neste caso, cada 1 ponto percentual de incidência de Colletotrichum truncatum causou redução de 84,1 kh/ha e o tratamento possibilitou o aumento de 112,0 kg/ha. Para este sistema hospedeiro- patógeno e ambiente, a redução de cada 1 ponto percentual do estande na colheita causou redução de 2.7% no rendimento. E cada 1 ponto percentual de incidência na semente causou redução de 2% no rendimento.
José Otávio M. Menten, engenheiro agrônomo, Professor Sênior USP/Esalq