A orla do Rio Piracicaba: o eterno xodó da cidade

José Machado

 

No último domingo, dia 11 de setembro, minha esposa Janet e eu fizemos um descontraído e agradável passeio na beira do Rio Piracicaba, percorrendo a pé desde a Ponte Pênsil até certa altura da Rua do Porto.

Impressionante verificar a quantidade de pessoas de todas as idades e de condições sociais variadas presentes andando pra lá e pra cá e o burburinho alegre que emanava do interior dos bares e restaurantes e das mesas nas calçadas, animado por artistas populares interpretando a sempre boa música popular brasileira.

Esse maravilhoso logradouro da cidade transformou-se ao longo dos anos no principal ponto de encontro e fruição da população piracicabana nos finais de semana e num inequívoco marco de atração turística. Isso me dá, confesso, uma ponta de orgulho porque tive o privilégio e a honra de, quando prefeito, ter dado uma atenção especial a esse recanto urbano, primeiramente em defesa da recuperação do Rio Piracicaba e depois com os atos de desapropriação, posse e ocupação do Engenho Central (primeiro mandato) e, finalmente, a implantação do Projeto Beira-Rio (segundo mandato).

Importante frisar que jamais reivindiquei a exclusividade dessa ação transformadora. Sempre reconheci os avanços na orla realizados por gestões anteriores às minhas e também os que foram realizados pelos meus sucessores, configurando uma continuidade administrativa republicana extraordinária e que merece ser enaltecida.

Em que pese ter ficado impactado positivamente com esse passeio, não posso deixar de registrar algumas preocupações com o que observei.

A Rua do Porto, não sei informar se excepcionalmente, estava tomada por barracas de vendedores de bijuterias e peças artesanais, disputando apertadamente o espaço com os restaurantes, numa configuração que não estava prevista inicialmente no Projeto Beira Rio. Confesso que estou aturdido e reticente em relação a isso. Por um lado, percebe-se nessa aglomeração uma certa promiscuidade visual que indubitavelmente empobrece o cenário maravilhoso que ali se descortina à margem do rio. Mas por outro lado reconheço o direito de outros interessados em usufruir daquele espaço para venderem seus produtos e garantirem sua sobrevivência econômica e social. E o que pensam os piracicabanos e piracicabanas a respeito? Não vi ou ouvi qualquer manifestação a respeito durante o passeio, pelo contrário, as pessoas que apinhavam os restaurantes e o passeio público pareciam felizes com aquele ambiente. De todo modo, cabe a reflexão e o debate e, para tanto, seria importante também o posicionamento dos urbanistas da cidade. E da Administração Municipal, por óbvio.

Preocupei-me também em não constatar em todo o passeio a presença de servidores públicos, sobretudo da Guarda Civil Municipal. Mas posso estar equivocado e, talvez, essa presença me tenha passado desapercebida. Na minha gestão, o entendimento que Ricardo Sanches, saudoso comandante da GCM, e eu tínhamos é que a presença do policiamento ostensivo era imprescindível naquele logradouro, não como forma de intimidação ou de constrangimento, mas para prevenir e proporcionar auxílio ao público em caso de necessidade. Por outro lado, dada a quantidade de pessoas presentes, sobretudo crianças, a manipulação de botijões de gás e de chamas nos fogões e nas chapas para assar requer também, em razão dos riscos envolvidos, a presença do pronto atendimento.

Por fim, é importante considerar a suficiência e a qualidade da infraestrutura presente na região, no que diz respeito aos sanitários e ao passeio públicos. Não percebi qualquer desconformidade, pois lembro ao prezado leitor e à prezada leitora que estávamos ali, minha esposa e eu, meramente passeando e sem qualquer veleidade fiscalizadora. Mas é importante trazer essa preocupação para chamar a atenção da autoridade pública sobre a necessidade de fazer a manutenção permanente desse importante espaço de lazer da cidade, a fim de garantir à cidadania a segurança e o conforto a que faz jus.

Piracicaba é uma cidade privilegiada. É uma benção ter um rio cortando a cidade e um patrimônio histórico da importância do Engenho Central, da Casa do Povoador, do Museu da Água, do Largo dos Pescadores e a Festa do Divino e da Rua do Porto proporcionando um espaço de lazer e de cultura inigualáveis. Fico imaginando quando o Engenho Central tiver a sua estrutura arquitetônica totalmente restaurada e abrigando o prometido Museu da Cana. Fico imaginando a antiga Fábrica da Boyes e o Palacete transformados num espaço de acesso ao público em geral, articulando-se com o polo gastronômico da Rua Luiz de Queiroz. É necessária muita vontade política e muita garra da sociedade para tornar isso uma realidade, mas vale a pena sonhar.

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José Machado, ex-prefeito de Piracicaba

 

1 comentário em “A orla do Rio Piracicaba: o eterno xodó da cidade”

  1. Foi um bom prefeito para a nossa cidade. um dos projetos que marcou a sua gestão foi no transporte público, com o sistema de integração.
    Sua gestão foi próspera. Com ele e depois com Mendes Thame, Piracicaba deixou de ser chamada fim de linha.

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