A extrema direita e o retrocesso da Democracia

Eduardo Annunciato (Chicão)

 

A política é sensível e dinâmica, seja em função de demandas sociais novas ou não atendidas, ou da interdependência instalada a partir da globalização e a atuação das grandes corporações que acabam submetendo a ação política aos anseios econômicos das elites dominantes. O caminho é sinuoso, com inúmeras armadilhas que desqualificam o debate político e abrem espaço para que aventureiros sustentados por discursos populistas e inconsequentes ocupem, de forma legítima, mas pouco republicana, a Câmara dos Deputados.

A prática política nacional vive um significativo retrocesso em termos de produção de leis de interesse da população, de desrespeito aos princípios republicanos, à ética jurídica, à honestidade no trato da coisa pública. Os grupos econômicos cooptaram a maioria dos deputados, sejam os marujos de primeira viagem ou os decanos do Poder Legislativo.

O que falar de uma atuação política onde 68% da Câmara dos Deputados votam contra o meio ambiente, indígenas e trabalhadores rurais? O que esperar de centenas de deputados que ferem de morte a fiscalização ambiental, precarizam a legislação trabalhista, dificultam o acesso aos benefícios sociais, mas, escancaram as portas da impunidade para infratores ambientais e empresários inescrupulosos, respaldados pela impunidade estatal?

São inúmeras as manifestações de organizações defensoras do meio ambiente e de trabalhadores que atuam nos setores de água, saneamento, meio ambiente e energia que não encontram eco junto aos deputados acometidos pela febre rural, que criminosamente aprovaram o uso de agrotóxicos, fecharam os olhos para a legalização da grilagem de terras públicas, apoiaram a criação do auto licenciamento ambiental, o enfraquecimento das agências ambientais, sucateando e desmontando o IBAMA, a FUNAI, o INPE, dentre outros.

Os efeitos nocivos do orçamento secreto e a definição da pauta de votação encaminhada pelo presidente da Câmara Federal precisam ser destacadas com letras garrafais e é necessário um duro questionamento sobre o fato de que dos 20 piores deputados que aprovaram aberrações como as acima citadas, 14 estão em seu primeiro mandato e que 13 deles pertencem ao PL, não é uma simples coincidência.

É preciso lembrar aos militares em diversos órgãos públicos, que no passado não muito distante, pregavam a defesa e a ocupação do espaço amazônico nacional, com exemplo podemos citar o Projeto Calha Norte criado em 1995 no governo Sarney, e em 2002, o Projeto SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia) que tinha como uma de suas responsabilidades a coleta de informações sobre desmatamentos e queimadas irregulares, controle do tráfego aéreo da região, além de monitorar o narcotráfico e o contrabando.

Somente 30% dos brasileiros ainda confiam nas Forças Armadas. Durante a Segunda Guerra Mundial, os pracinhas dividiam sua ração com civis italianos e hoje, boa parte dos militares dá as costas para 33 milhões de civis que passam fome no país e se cala quando o Brasil é considerado um pária ambiental e político, graças ao casamento de uma direita burra com uma classe política venal e despreparada.

 

Eduardo de Vasconcellos Correia Annunciato (Chicão), presidente licenciado do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo e da Federação Nacional dos Trabalhadores em Energia, Água e Meio Ambiente (FENATEMA).

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