José Osmir Bertazzoni
A economia dos EUA caiu em estagflação, causada, por sua vez, pela presença simultânea de inflação e recessão. No segundo trimestre de 2020, o PIB contraiu 0,9%, um pouco menos que os 1,6% do primeiro trimestre. O motivo é a queda nos gastos devido ao aumento dos preços, ou seja, da inflação que, segundo o Federal Reserve, está em torno de 7,1%. Quanto mais os preços sobem, menor o poder de compra dos salários e menos as pessoas gastam.
Embora a teoria econômica ensine que, depois de dois trimestres de contração, entramos em recessão, a Casa Branca, o Tesouro e o Federal Reserve continuam negando isso. A evolução positiva do mercado de trabalho corrobora essa interpretação. A taxa de desemprego está em seu nível mais baixo há 50 anos e os salários estão em alta. Esta é a anomalia em relação aos anos setenta quando, após o choque do petróleo, o mundo inteiro caiu em estagflação.
É possível que a discrepância entre o mercado de trabalho e os indicadores econômicos hoje se deva ao maior tamanho do setor de serviços e do consumo no varejo em relação à década de 1970. A pandemia reduziu consideravelmente a força de trabalho, muitos se aposentaram precocemente e alguns decidiram deixar o mercado oficial. O fim da pandemia produziu, então, um aumento na demanda por serviços no início do ano. Por exemplo, todo mundo reservou suas férias. Este desequilíbrio entre a oferta e a procura de trabalho é particularmente acentuado nos setores dos serviços, e é muito provável que esteja na origem da evolução positiva do emprego. Mas se a economia continuar a se contrair, como é previsível, em breve chegará um ponto em que a demanda e a oferta de trabalho estarão em equilíbrio e o emprego deixará de crescer, possivelmente até o final de 2022.
Os indicadores econômicos são ainda piores no Brasil, onde a inflação está agora acima de 11% (dois dígitos) e o crescimento está estagnado. O Japão também está nas garras da estagflação. Não há necessidade de ser feliz, então. No entanto, o verdadeiro problema não é a economia, o verdadeiro problema é o clima.
O desmatamento descontrolado da floresta amazônica vem provocando mudança climática e alterando o equilíbrio econômico. Pense no que está acontecendo nas áreas devastadas por garimpos ilegais, pela derrubada das matas e suas consequências desastrosas para a agricultura no restante do país. A irreversibilidade desses fenômenos provocará a contração da produção agrícola, afetando toda a cadeia produtiva a ela ligada. A desertificação de algumas áreas será inevitável. Daqui a alguns anos, não se falará mais em recessão, inflação ou estagflação, porque a estrutura sobre a qual repousam as grandes economias se tornará fluida devido às mudanças climáticas.
Será impossível prever as safras, fixar os preços das matérias-primas no mercado futuro, ficará muito caropara mitigar o risco.Secas e inundações serão os inimigos a serem combatidos e a emergência será a norma. No ritmo em que o clima está mudando, essas transformações ocorrerão dentro de uma década. Os equilíbrios geopolíticos também saltarão, as mudanças climáticas serão mais acentuadas em algumas áreas do país, como a Região Centro-Oeste.
O povo que sairá para exercer seu direito ao voto nas próximas eleições (2022), deverá se atentar para a situação da Região Norte e Nordeste do país, que esperam que as regiões centrais, Sul e Sudeste recuperem o controle do clima e controlem os índices de poluição com um brado permanente contrário ao desmatamento da Amazônia, ao garimpo ilegal e ao descontrole da exploração mineral.
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José Osmir Bertazzoni, jornalista advogado