João Francisco de Aguiar
No próximo sábado será 09 de julho de 2022, o aniversário de 90 anos da inesquecível data oficial do inicio da Revolução de 1932. Vamos brevemente aos fatos históricos:
Março de 1930: Fim da República Velha, chamada de “República do Café com Leite”, porque ora São Paulo, ora Minas Gerais elegiam o presidente. Washington Luís (paulista, sai em 1930) deveria indicar um mineiro mas indica Júlio Prestes, paulista, vitorioso nas eleições. Minas Gerais junta-se ao Rio Grande do Sul. Vence.
Os lideres entram em confronto; Getúlio Vargas (Rio Grande do Sul) acaba recebendo o apoio de todos, inclusive dos tenentes, que exigiam mudanças sociais. Empossado, nomeia interventores (em parte militares). Em São Paulo, governa em prejuízo dos direitos do povo, e de empresários cafeicultores, que já sofriam com a queda de preços a nível global (Grande Depressão dos anos 30).
23 de maio de 1932: uma multidão protesta em São Paulo contra o Governo de Getúlio Vargas; o cortejo atravessou o Viaduto do Chá e chegou à Praça da República parando diante de um edifício onde havia um centro de seguidores de Getúlio Vargas, armados com submetralhadoras. Alguns ameaçaram entrar por fora do prédio, mas os de Getúlio Vargas, intimidados, responderam com rajadas de balas. Na escaramuça, muitos foram feridos, morrendo mais de 10 pessoas. Destes mortos, destacaram-se Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo (MMDC), homens do povo, e não estudantes segundo Ventura (2020).
09 de Julho de 1932: São Paulo entra em guerra para depor Getúlio Vargas; São contava com apoio de Minas Gerais, mas apenas foi apoiado por Mato Grosso, onde havia forças do Exército. A guerra deu-se em três frentes: uma no Sul (houve fortes combates em Buri), em Cunha (homens vinham pela praia de Santos) e no Norte, região do Vale do Paraíba. Piracicaba mandou cerca de 600 homens em dois batalhões, entre eles estavam os de São Pedro (27) e de regiões vizinhas (9). Ao todo eram uns 22.000 homens voluntários, uns 3000 do Exército baseado em São Paulo, comandados pela Força Pública (hoje Polícia Militar) com uns 10.000 homens.
02 de Outubro de 1932. Diante de uma força poderosa, bem armada e treinada, mais de duas vezes superior em homens, paulistas iam para o sacrifício. Os conflitos mostram-se violentos, como em Buri, SP. As perdas cresciam e São Paulo carecia de equipamentos, apoio e suprimentos, assim os paulistas aceitam cessar os combates, porém sem rendição e assinam o “Armistício” no Colégio Ranulfo Azevedo, em Cruzeiro, SP. A Revolução de 1932 deixou profundas marcas nos paulistas. Fala-se em mais de 1.500 a 2000 mortos, mas oficialmente menos de 1000. Os paulistas foram derrotados na guerra mas vitoriosos na política. Em 1934, Getúlio Vargas cede e é promulgada a Constituição de 1934. No Mausoléu do Ibirapuera, há uma tumba central e nela estão as cinzas dos quatro heróis (MMDC) e de Paulo Virgínio (herói de Cunha, SP). O Govermo de Dilma Rousseff reconheceu Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo como “heróis nacionais” e seus nomes escritos no Panteão da Pátria e da Liberdade (Memorial Tancredo Neves), em Brasília. De Piracicaba, perderam a vida em combates cerca de 30 homens. De São Pedro, um homem perdeu sua vida em combate, José Augusto Escobar, farmacêutico. Destacado para servir em Buri na Frente Sul, José Augusto decidiu um dia sair da trincheira para resgatar seu companheiro Ennes Silveira Melo, acabando por ser também alvejado e morto. Derramou seu sangue como um autêntico herói. No dia do retorno, seu caixão prateado voltou com os demais combatentes vivos. A família Escobar, traumatizada, quase toda deixou a cidade de São Pedro por não poder conviver com as memórias.
Quando nasci, meu saudoso pai, Sebastião de Azevedo Aguiar (“Zito Aguiar”), combatente em 1932, tinha 45 anos. Grato pelo exemplo de patriotismo dele e dos seus companheiros eu não poderia deixar de comparecer na Praça Adolpho Bragaia e prestar minhas homenagens, ainda que sozinho e de mascaras, em uma singela homenagem. Doei seus pertences ligados à Revolução ao Museu do Gustavo Teixeira.
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João Francisco de Aguiar, filho de ex-combatente de 1932. Medalha da Constituição dada pela Alesp. Pela Sociedade de Veteranos de 1932 as Medalhas MMDC, Constitucionalista e Governador Pedro de Toledo. Bibliografia. VENTURA, Mário Fonseca Ventura. “Memórias do Ventura”. São Paulo, 2020.