Elda Nympha Cobra Silveira
Qual será a temperatura mais agradável para o corpo? O calor nos deixa mais à vontade e parece que tudo deriva para um frescor de juventude. Ficamos livres até dos pensamentos austeros, sentimos mais desenvoltura, nos desvencilhamos das roupas e se pudermos nos banhamos nos mares, nos rios e piscinas. Um chapéu de sol ou boné nos deixa modernos, elegantes e esportivos.
Qual é o homem que não se sente à vontade numa bermuda e chinelos, caminhando num lindo dia de sol nas ruas ou calçadões ou mesmo pedalando uma bicicleta? Imagine-se numa praia tomando água de coco debaixo do guarda sol. Existe maior descontração do que isso? Creio que não! É o “dolce far niente” esperado por todos que não são alérgicos ao sol.
Aquele ar marinho é o perfume da maresia que embriaga o nosso espírito relaxado. Nossos pensamentos se tornam nostálgicos e lúdicos. Problemas? Onde estão? Queremos que a vida termine em barranco para nos apoiarmos nele. Eles surgem quando procuramos pela praia onde está a vendedora de acarajé, ou esperamos que nos sirvam pastéis de camarão, ou sorvete de frutas. Também quando temos que decidir se vamos ou não dormir ou passear pela orla ao cair da tarde.
Mas convenhamos, esse friozinho gostoso que acontece no meio do ano, é um grande prazer e queremos que ele demore mais um pouco… Ao abrirmos as janelas ou nos quedamos nos terraços dos prédios ficamos encantados com a neblina, que ofusca muitas regiões da cidade. A Catedral, quando seus sinos espalham sons por sobre os telhados úmidos de frio, até parece fazer com que as telhas francesas ou paulistinhas se enruguem com a friagem que se derrama sobre tudo.
Já vi muita beleza nas imagens de frio de outros países, mas como sou bairrista, gosto muito das cenas de inverno da minha terra natal. Vemos então, que o frio vem a seu tempo, e ele mexe com nossa psiquê, pois a natureza influencia a nossa mente. O clima interage com nossos atos e condutas. Sentimos que tudo é aconchegante, embrulhados com nossas roupas de lã, o que nos deixa mais elegantes e sóbrios.
Uma sopinha qualquer combina melhor com o nosso corpo confortando-nos e nos abraçando com carinho. Uma xícara de chocolate quente ou chá, então, são bebidas dos deuses, a nos remeter à infância, ainda mais quando acompanhadas com uma fatia de bolo.
Caminhar com agasalho, na companhia do solzinho preguiçoso, porque até ele fica sem coragem de aparecer, é uma delicia sem par. Dormir agasalhada com um edredom aconchega até nossos sonhos. Assistir a um filme, aquecida na cama quentinha, idem! Melhor ainda porque deixamos de ouvir o ruído das pás dos ventiladores e não sentimos a temperatura falsa do ar condicionado!
A mente se adéqua à temperatura e acomoda seu espírito para usufruir o que se instala nos períodos sazonais, que ocorrem no evoluir dos meses do ano e nas experiências diversificadas da vida que vai passando sem cessar seu curso.
Nós, quer dizer o nosso espírito também tem suas estações climáticas, quando nosso temperamento se mostra frio e circunspecto, ou acalorado em certas situações, e nostálgico quando outonal, e primaveril quando temos o espírito da juventude.
Portanto, podemos prolongar no nosso espírito a estação que nos fará mais feliz. Depende de nós essa procura.
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Elda Nympha Cobra Silveira, escritora, artista plástica/ [email protected]