Jornalismo, Unimep e a Educação Metodista

Paulo Roberto Botão

 

Boa noite a todas e todos.
Meus cumprimentos ao professor doutor Ismael Forte Valentin, magnífico Reitor da Unimep, em nome de quem saúdo a todas as demais autoridades acadêmicas e religiosas presentes.
Boa noite queridas formandas, agora jornalistas e companheiras de profissão.
Obrigado pela oportunidade de compartilhar este momento tão especial com vocês, é uma alegria imensa estar aqui, especialmente nesta condição de patrono desta turma tão querida.
Boa noite queridas mães e pais, avós, irmãos, namorados, amigos.
Ao lado das formandas, vocês são os grandes vencedores nesta noite.
Sintam muito orgulho do que suas filhas construíram, com o apoio de cada um de vocês, ao longo destes muitos anos de estudo, trabalho, esforço.
Uma parcela muito pequena da população deste país, marcado por tantas injustiças, completa o ensino superior. E com isso abre uma infinidade de oportunidades profissionais e pessoais.
Essa turma de formandas em especial merece todas as homenagens, por ser 38ª. turma de Jornalistas formadas pela Unimep.
Infelizmente, também é a última, após a destruição dessa universidade pela Educação Metodista.
As escolhermos ser jornalistas escolhemos uma profissão nobre, que carrega a responsabilidade e o peso do compromisso com a verdade, tão fundamental, ainda que em muitos momentos possa incomodar.
É assim quando o Jornalismo revela esquemas de corrupção, é assim quando revela abuso de autoridade, é assim quando mostra a incompetência de políticos e administradores despreparados, quando mostra a insuficiência de políticas públicas desmentindo a propaganda oficial.
Mais do que técnicas, ao longo dos quatro anos de universidade vocês aprenderam que jornalismo é uma atividade essencial à democracia, uma atividade essencial à defesa dos mais fracos, essencial à produção de conhecimento que promova a vida e a dignidade humana.
As técnicas e tecnologias mudam e são atualizadas a todo momento, o compromisso ético com a verdade, entretanto, deve ser inabalável.
Sejam jornalistas onde estiverem.
Se forem produzir notícia, sejam jornalistas, se forem produzir conteúdo para as mídias sócias, sejam jornalistas, se forem fazer comunicação institucional, sejam jornalistas.
Saúdo meus queridos companheiros professores João Turquiai, Ivonésio e Wanderley, com os quais tive a honra de trabalhar durante muitos anos. Cumprimento também os amigos e professores de Cinema e Audiovisual, Bruno Jareta, Cláudia e Glauco.
Lembro aqui dois professores muito queridos de todos: o professor Belarmino Cesar Guimarães da Costa e a professora Ana Maria Cordenonssi, aos quais presto minhas homenagens.
Neste momento, peço licença, queridas formandas e pais, para tecer também algumas palavras sobre a Unimep, a universidade que vocês escolheram para ser seu espaço de estudo e crescimento pessoal e profissional.
Essa Universidade já foi uma das maiores do país, não por seu tamanho ou número de alunos, mas por seus valores, por seu compromisso inabalável com a justiça social, com a democracia, com a cidadania.
Eu me orgulho muito de fazer parte da história desta instituição, como vocês agora. Aqui eu me graduei jornalista, aqui meus dois filhos também obtiveram seus diplomas de jornalistas, entregues neste mesmo teatro. Aqui minha esposa também se graduou em letras.
Fui coordenador do Curso de Jornalismo durante mais de dez anos. Completaria 32 anos de Unimep ontem, 1ª de abril, não fosse a fraude processada pela atual gestão da Educação Metodista em 2021.
É sintomático que os professores homenageados hoje nesta formatura sejam justamente aqueles que já não estavam no curso no seu último ano de funcionamento, pois fomos todos demitidos (exceto o professor João, licenciado), de forma ilegal e fraudulenta por estarmos em greve.
Até hoje, passados doze meses da demissão, por telegrama, também não recebemos um centavo de indenização, sequer os meses de salários e 13º em atraso, o fundo de garantia não depositado e os demais direitos.
Pois bem, essa não foi a primeira vez que a Unimep fez isso. Sob a gestão da Igreja Metodista vem demitindo funcionários e professores há pelo menos cinco anos, e não pagando um centavo, obrigando todos a buscarem a Justiça do Trabalho.
E agora tenta emplacar outra crueldade, um processo de Recuperação Judicial, também marcado por ilegalidades e imoralidades, que visa somente proteger o patrimônio da Igreja Metodista, às custas do trabalho e do direito de milhares de trabalhadores.
Eu gostaria muito que esta instituição se recuperasse, afinal mais da metade da história da minha vida, e da minha família, se confunde com a história da Unimep e do centenário Colégio Piracicabano.
Penso, entretanto, que essa recuperação não virá, pelo menos sob a liderança dos atuais gestores.
Não se constrói a vida sob os escombros da morte, da dor e do sofrimento, da violência e do desrespeito.
Peço mais uma vez desculpas aos senhores pais e queridos alunos, mas não seria honesto da minha parte, como jornalista, vir a essa solenidade, a última do Curso de Jornalismo da Unimep, e não me ater à verdade sobre o que está sendo feito com essa universidade.
A atual direção da Igreja Metodista está destruindo a Unimep, por que em sua mesquinhez não está à altura de tudo o que ela representa, do seu compromisso ético com a educação e com a promoção da cidadania.
Para concluir, digo que devemos, apesar de tudo, ter esperança.
Esperança de que as coisas irão mudar neste país – Fora Genocida – esperança de que a história dessa universidade, que é também patrimônio de Piracicaba, conseguirá se impor, de que a sociedade será capaz de exigir da Igreja Metodista uma postura mais altiva e ética diante da responsabilidade que está sobre os seus ombros.
Queridas formandas, sejam felizes em sua vida e em sua profissão, não abandonem nunca o compromisso com a verdade, com a defesa dos mais fracos, por que este é o papel do jornalismo e para isso ele existe.
Muito obrigado a todos pela atenção.
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Paulo Roberto Botão, jornalista formado pela Unimep e mestre em Comunicação, e foi o Patrono da 38º Turma de Formandas do Curso de Jornalismo, composta pelas agora bacharéis em Jornalismo Ana Julia, Daiany, Júlia, Letícia e Raissa. Este discurso foi proferido no Teatro Unimep, durante a solenidade de formatura, no dia 2 de abril de 2022.

 

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