José F. Höfling
Sobre o que estávamos falando da última vez mesmo? Ah…me lembrei…sobre o Alzheimer…ufa! Passei no teste. Havíamos colocado algumas questões anteriormente a fim de nos ajudar a entender melhor essa doença, tais como: Como tudo isso começou? Desde quando isso se configurou como uma doença importante e por quê recebeu esse nome? O que foi encontrado no cérebro humano de alguém com a expressão clínica desta doença e morreu? O que chamou a atenção de médicos e pesquisadores inicialmente que caracterizaram essa doença?
No início da década do século XX Auguste Deter, uma dona de casa alemã, foi diagnosticada com a doença “demência pré-senil”, até então assim denominada pelo médico Alois Alzheimer (daí a denominação da doença), morrendo em 1906, aos 55 anos de idade, internada em um Hospital para doentes mentais e epiléticos, longe do marido e filhos…não lembrava o seu sobrenome, sua idade ou o nome do marido. Após sua morte, com o consentimento da família, Dr. Alzheimer analisou o cérebro da paciente e nele encontrou nas placas de proteína beta-amiloide “sujeira” que assim denominamos anteriormente…na verdade se parece muito com fios muito finos que lembram “bactérias filamentosas” fazendo uma analogia bem grosseira. Isso se tornaria, na verdade, um sinal clássico da doença e removê-las se tornou o grande objetivo da neurologia médica…Graças aos cientistas é possível fazer isso hoje clinicamente, mas não curamos a doença! É triste…imaginem que essas proteínas amiloides, que se formam no cérebro das pessoas com a doença e atrapalham as conexões entre os neurônios acontecem ao longo dos anos, e, portanto, trata-se de um processo acumulativo cuja expressão clínica, na maioria das vezes é tardia, o que dificulta qualquer intervenção que venha a “curar” a doença. Muitas teorias apareceram na tentativa de elucidar a doença e seus mecanismos, como: A teoria Amiloide (sujeira); A teoria colinérgica (escassez); A teoria Tau (a deformação); A teoria Inflamação (O fogo) e A teoria colesterol (a gordura). Explicar todas essas teorias necessitariam tempo e esmiuçar os detalhes da doença que não é bem o nosso intento, torna-se pouco produtivo e pode causar confusões. Todas essas teorias tiveram os seus momentos de buscar remédios que pudessem aumentar ou diminuir substâncias que pudessem estar presentes no decorrer da doença contribuindo com o seu agravamento, mas todas elas fracassaram! Para se ter uma ideia ainda sobre a sua incidência na população, nos EUA, um em cada nove indivíduos acima de 65 anos tem Alzheimer (a partir dos 85 anos, um em cada três), e ele é a terceira maior causa de morte entre idosos.
A teoria que chamou bastante a atenção dos pesquisadores foi a “Teoria Amiloide”, o que levou os mesmos à uma procura incessante de um remédio que pudesse “limpar a sujeira” e levasse à cura da doença, ou seja, agisse também na manifestação clínica desses sintomas…tudo isso faz parte daqueles que buscam a ciência para o conhecimento e cura de muitas doenças que acometem os seres humanos, fato que presenciamos no momento em relação à pandemia que nos afeta…E obtivemos sucesso! Com o Alzheimer é a mesma coisa, no entanto, para certas patogenias como é o caso, os enormes esforços que tem sido levados a efeito para dizimar esta doença, tem levado os pesquisadores (particularmente de empresas medicinais) a premeditar o enunciado de remédios de “suposta cura” do Alzheimer, sem passar pelas medidas e normas da ciência metodológica, encurtando passos e levando a propor um medicamento que faça “milagres” com ênfase na questão econômica, bastante apreciada por algumas grandes empresas…A notícia desalentadora do não funcionamento do “suposto remédio” proposto, confirma a complexidade do tratamento desta doença e a necessidade de avançar o conhecimento da neurociência…Uma pena mas acontece…40% das drogas fracassam na última fase dos testes clínicos!
Afinal, que remédio é esse e porque fracassou na prática, ou seja, o que realmente aconteceu? O remédio se mostrou altamente eficaz para “limpar” a “sujeira” (placas de beta amiloide) no cérebro mas, isso não evitou que as memórias continuassem desaparecendo… Próxima parada: “A polêmica do Aducanumab”, no próximo capítulo…até lá!
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José F. Höfling, professor da Unicamp