José Osmir Bertazzoni
Orelhas de abano, comportamento inconsistente, discursos toscos, personificação da loucura, ações desastrosas e agressões a opositores. O patético será compreendido neste texto como capaz de produzir choque de apatia. Gostaria de elevar o imaginário do leitor ao ápice do interpretativo, uma forma de persuasão fundada na emoção.
“No tocante a isso aí…”, expressão usual do vereador Fabrício Polezi, que se posiciona contrário às cotas em universidades, ao concurso público e se diz não racista porque tem alguns amigos negros — como se isso fosse fundamentação probatória da sua verdadeira personalidade.
Por que somos favoráveis às cotas para negros nos universos acadêmicos e no serviço público? Muito simples a informação, ocorre pela razão incontestável de que o Brasil possuiu cinco séculos de existência, dentre esses três séculos e meio de exploração da mão de obra escrava. Diferente dos imigrantes europeus, orientais, árabes etc., que vieram para essas plagas por escolha própria e trouxeram mínimos recursos junto aos seus familiares, os negros foram arrancados de suas terras, famílias, acorrentados e trancados em navios negreiros, comercializados como se fossem animais, escravizados.
Nesse diapasão, temos que no Brasil, quando da abolição (diga-se o último país do mundo a abolir a escravidão), não foram os negros indenizados pelos seus esforços, mas, sim, abandonados à própria sorte, sem quaisquer política de Estado para serem inseridos a nossa sociedade como cidadãos.
O Brasil foi injusto com o povo negro e deve a eles uma reparação, as cotas são apenas uma maneira de estimular esta obrigação de inserção à sociedade que eles, mais que ninguém, ajudaram a construir.
De forma burlesca, Polezi, durante sessão da Câmara em Piracicaba, cita exemplos de negros bem-sucedidos (quantos?). Patético vereador, já citou para defender suas alucinações também o ex-ministro Joaquim Barboza e a modelo Gisele Bündchen.
Estamos diante de uma forma de persuasão estabelecida sobre o púlpito do ilusionismo ideológico deturpado. Entre os gregos, esse coprólito mental fossilizado produz ao locutor grande sensação de autodefesa e justificativas injustificáveis, cujo autoconvencimento ainda não se encontra assentados no seu íntimo. Vive uma espécie de relaxamento, de cura, denominada por Aristóteles catarse. Ainda que o procedimento utilizado seja o patético, o resultado não é o alívio das tensões, como ocorria na tragédia ática, mas antes uma espécie de amargor, de problema não resolvido.
Penso que, na visão do vereador, “violência” e “patético” sejam palavras sinônimas. Ocorre que a segunda se constitui como decorrência da primeira. Todos os discursos na tribuna da Câmara de Vereadores são violentos, chocam os espectadores, em razão das transmissões ao vivo por redes de televisão e redes sociais, além de outros meios de informação. Por essas razões ser contra as regras de evolução da sociedade humana, disfarçada em bandeiras de conservadorismo, é uma agressão chocante, muito utilizada por esse “Nobre” edil. O patético consiste em estruturar a violência de maneira a poder com mais eficiência provocar comoção, arrebatamento das emoções. Nas obras pertencentes à tragédia ática, depois do patético, aparecia a catarse.
Gestos e palavras patéticas fazem parte da narrativa em questão. São exemplos de gestos patéticos as cenas em que Polezi se esperneia ao defender a família Bolsonaro, tentando conceder a ela, através do filho Carlos, um título de cidadão piracicabano (rejeitado), como se esse tivesse qualquer importância para nossa cidade. São exemplos de ações frívolas.
Diferentemente do que ocorre entre os trágicos gregos, o patético não produz no leitor catarse, cura. Não se trata de expiação para que a ordem seja reconstruída entre os cidadãos. O que resta no leitor depois de efetivado o contato com estes alfarrábios é o sentimento de indignação frente a uma sociedade pela qual o vereador foi eleito para defender a cidade e seus cidadãos e não para defender seus “heróis” e, quiçá, seus “bandidos” — como faz em todas as seções.
Sendo assim, o que resta ao eleitor piracicabano é a indignação. Se o patético na tragédia grega estava sempre ligado à catarse, compreendida esta como cura das emoções, não é possível ver cura no patético presente nos discursos do vereador.
RESUMO — O objetivo do texto consiste em analisar o patético e o violento nos discursos do vereador Fabrício Polezi, durante as sessões legislativas na Câmara de Vereadores de Piracicaba, dentro de uma visão filosófica intrínseca em todos os atos da ópera do “Torneiro Conservador” em suas alucinações ideológicas confusas, frívolas e deturpadas.
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José Osmir Bertazzoni, jornalista, advogado; e-mail: [email protected]