Colorindo e descolorindo a Saudade

Barjas Negri

 

Durante a 1ª Semana de Estudos Cemiteriais organizada em 2006 pelo então secretário interino de Turismo, jornalista Miromar Rosa, surgiu a ideia, apresentada por artistas, de desenvolver arte nos muros do Cemitério da Saudade. A Secretaria Municipal de Ação Cultural, sob o comando de Rosângela Camolese, abraçou a proposta e criou em 2007, com sua equipe,o projeto Colorindo a Saudade, evitando que o muro do cemitério continuasse a ser pichado.

Assim, o trabalho foi dividido em três fases com os temas: 1º – “Orla do rio Piracicaba – margem direita”, 2º – “Anjos, Santos e Arcanjos” e 3º – “Patrimônios Culturais”. Foram anos de trabalho, envolvendo a restauração e a reconstrução parcial do muro de cemitério, com apoio das secretarias municipais de Obras e de Defesa do Meio Ambiente. Houve a participação de 79 artistas, que produziram painéis de 2,5 x 4,0 metros, com aplicação de várias técnicas e motivos.

Com a instalação de iluminação ao longo de todo o muro do cemitério, Piracicaba ganhou uma galeria de arte a céu aberto, valorizando os artistas e as artes com o uso do muro do Cemitério da Saudade, que fica na importante avenida Independência, com grande circulação de veículos dia e noite, cujos motoristas podem apreciar uma boa galeria de arte. Assim como as pessoas que vão ao cemitério que passaram a apreciar e a fotografar os painéis.

Neste segundo ano de pandemia temos assistido tristemente à deterioração do espaço, principalmente pela falta de manutenção da parte elétrica. Os braços e as luminárias foram lamentavelmente destruídos por vândalos, tornando o espaço escuro à noite, atrapalhando a paisagem cultural, atraindo mais vândalos que, por já estar deteriorado o local, destroem um pouco mais. A Prefeitura de Piracicaba foi alertada pelas redes sociais, mas com pouco compromisso com a cultura e artistas locais pouco ou nada fez durante este ano.

Porém, a direção do XV de Novembro fez parceria com a Tintas Coral para revitalizar o Estadão Barão da Serra Negra. Recentemente, nas festividades de comemoração de seus 108 anos, quatro artistas pintaram os muros do estádio com temas alusivos ao “Nhô Quim”. Registrei essa ação na minha rede social e o faço novamente neste artigo.

Com isso, o projeto está se transformando no “Descolorindo a Saudade” que, lamentavelmente, pode se perder com o tempo. Ainda bem que na nossa gestão houve ouve uma ação envolvendo a Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal da Ação Cultural e da Pinacoteca, que documentou todas as obras, homenageando os artistas e que estará preservando a história caso continue o descaso do setor público. Que o “Colorindo a Saudade” vença o “Descolorindo a Saudade”.

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Barjas Negri, ex-prefeito de Piracicaba

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