Ronaldo Almeida Sango
Bem, como no artigo da semana passada, começo saudando a minha ancestralidade, o meu Motumbá, Kolofe, Makuiu, que nada são dialetos do continente africano, que significam pedir a benção aos meus irmãos de matriz africana, os mais velhos e aos mais novos.
No outro artigo fiz questão de escrever sobre o dia Nacional da Umbanda, mas o dia 15 de novembro é realmente o dia da Umbanda?
Já sabemos oficialmente da história contada, que no dia 15 de novembro de 1908, o Caboclo das 7 encruzilhadas (um índio brasileiro) que numa sessão espírita(mesa branca, Kardec) no jovem médium, Zelio Fernandino de Moraes teria feito a primeira incorporação e feito a fundação da religião de Umbanda.
1908? E antes disso, os espíritos dos Caboclos Pretos Velhos, Baianos, Marujos, Exús e Pombas giras faziam como? Tata Tancredo já ouviram falar?
Preciso dizer que, mesmo não concordando com quem pensa diferente da minha pessoa, defenderei até a morte o seu direito de discordar sobre o que penso, a “minha” verdade!
É preciso descolonizar os nossos terreiros, nossas matrizes africanas, sem perder os seus costumes e práticas religiosas.
Posso até concordar que depois de 1908 e Umbanda teve mais a participação do branco, mas dai afirmar que a Umbanda foi fundada a partir disso, é um pouco demais.
Num terreiro de Umbanda, podemos encontrar elementos da igreja cristã, indígenas e africanas, mas a partir daí pensarmos que a Umbanda nasceu nesta data, acho um pouco simplório demais.
Digamos que, no dia 15 de novembro de 1908, a Umbanda foi institucionalizada, portanto não é errado comemorar, nesse dia, o Dia Nacional da Umbanda.
Gosto muito de uma fala da gloriosa Iyalorisá Beata de Yemonjá(in memorian), quando perguntada sobre o sincretismo religioso, que é aquela ligação dos Orixás com os santos das Igreja Católica.
Essa ligação foi feita pelo povo preto quando foram escravizados, para poderem cultuar os seus Orixás, fizeram essa ligação para que não sofressem perseguição dos seus senhores.
Mas alguém pode dizer, se Iemanjá veio da África, como ela pode ser branca?
Baseio-me muito na resposta de Mãe Beata, que na oportunidade disse, isso está enraizado na cultura de vida dos brasileiros e querer mudar isso era querer mudar a fé do povo.
Da mesma forma é o Dia Nacional da Umbanda. É preciso separar uma coisa da outra, mas qual o problema eu ou qualquer outro irmão comemorar no dia 15 de novembro o dia da Umbanda? Nenhum!
O que importa em 2021 é usarmos essa data e tantas outras como uma forma de resistência, de luta para vencermos o Racismo religioso, que muitos de nós trazemos uma narrativa de que não existe intolerância religiosa, ou que a culpa é de quem sofre a intolerância e não de quem a prática, mas esse assunto deixemos para outra oportunidade.
Para encerrar-se a minha pequena contribuição, é preciso se fazer presente nos espaços, não somente do terreiro de Umbanda ou Candomblé, mas nas associações dos bairros, movimentos sociais, partidos políticos, só assim saberemos mais a fundo nossos direitos e nossos deveres, mas essa pauta vamos tratar mais a frente.
Sejamos resistentes, sejamos de luta, um mundo sem intolerância é possível!
Axé para todo mundo, Axé!
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Ronaldo Almeida Sango, religioso de Matriz Africana