O flagelo do desemprego

Barjas Negri

 

Os últimos indicadores apontam para a recuperação da economia no pós-pandemia, com redução das restrições sanitárias. Praticamente, o que o Brasil deixou de produzir em 2020 estará recuperado até o final do ano e, quem sabe, um “tiquinho” a mais. Dá para comemorar, mas não dá para soltar rojões e nem ficar eufórico, pois ainda há um longo caminho a percorrer, principalmente em relação à geração de empregos.

Os últimos dados disponíveis pelo IBGE, por meio da Pesquisa Nacional por Amostra por Domicílio (PNAD) são desalentadores: a taxa de desemprego continua elevada, mantendo-se em 14,1%. Esse percentual é bastante alto quando se compara há 10 anos. Vamos ver o que isso significa.

São 14,4 milhões de desempregados, pessoas com qualificações bem diversificadas, que saem às ruas todos os dias para pedir emprego, entregar currículo ou fazer uma entrevista. Infelizmente, voltam para suas casas sem qualquer perspectiva. Muitos são chefes de família e precisam sustentar seus filhos e manter as despesas de suas casas.

Por outro lado, ainda mais triste, temos 5,6 milhões de pessoas desalentadas. Isto é, elas saíram de casa quase todos os dias para procurar um emprego durante um ano inteiro. Não conseguiram e desistiram de procurar. Agora, estão em casa, desalentadas, sem ânimo para novamente sair às ruas em busca de emprego.

São 20 milhões de pessoas nessas duas situações. Isso mesmo. Uma legião de pessoas que não encontra oportunidade no mercado de trabalho, uma vez que o crescimento da economia, o aumento da produtividade, a expansão das exportações, o aumento dos investimentos, a recuperação da indústria de transformação e o dinamismo da construção civil, estão praticamente fora da agenda nacional.

Tudo isso fica, na maioria das vezes, na retórica e nas cartas de intenções. Essa agenda que pode gerar emprego, renda e tributos está sendo substituída por outras, que não apresenta alento aos trabalhadores e seus familiares. É lamentável,

O desemprego é um dos maiores flagelos para o trabalhador, que ao ficar muito tempo sem emprego e renda, perde sua dignidade e passa a viver de auxílio de familiares e amigos, e gasta rapidamente seus recursos de uma eventual poupança, do FGTS e do seguro-desemprego.

Muitas vezes, esse desempregado é obrigado a se inscrever nos programas sociais governamentais de auxílio emergencial, de distribuição de cestas básicas, ou mesmo, de auxílio das famílias e organizações sociais solidárias. Suas contas de água, energia ficam atrasadas, levando-o a perder a estima e a dignidade.

Por um bom período, muitos passam a morar de favor em casas de familiares e amigos, e muitos tomam decisões mais radicais e se submetem a morar em favelas, para fugir dos gastos de aluguel, energia, água. Com isso, reservam os poucos recursos para alimentação e higiene.

Seria bom que toda sociedade entendesse bem essa situação e participasse para termos uma agenda nacional que priorize a geração de emprego e renda, auxiliando na recuperação da dignidade dos brasileiros sem condições de trabalhar, que estão desempregados ou desalentados.

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Barjas Negri, ex-prefeito de Piracicaba

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