Semana Mundial do Brincar

Vanessa Pupo

 

No último dia 26 de maio, o Mandato Coletivo propôs à Câmara Municipal uma ideia surgida de um grupo de profissionais preocupados com a questão dos direitos das crianças, cujo brincar está inserido e a Semana Mundial do Brincar reafirma um marco histórico de que as crianças possuem esses direitos, todavia vivem situações em que suas vozes, muitas vezes, são silenciadas.

O dia 28 de maio, Dia Internacional do Brincar, reconhecido pela Unesco, é comemorado por mais de trinta países para que não esqueçamos da importância da brincadeira na infância. Com muita luta, tal dia foi ampliado para a Semana Mundial do Brincar, cuja realização ocorre na última semana do mês do maio e, no Brasil, vem sendo promovida pelo Movimento Aliança pela Infância.

No Brasil a Aliança tem incentivado a comemoração desta data desde 2002, propondo entre outras coisas, que o brincar vai muito além do consumo de brinquedos. O movimento investe em programações relacionadas com os movimentos nascidos nas diversas realidades vividas pelas crianças no mundo. As atividades têm como principal desafio contribuir para a mudança da mentalidade e da cultura sobre as infâncias, de modo que se compreenda o sentido da educação como um direito humano e um elemento constituinte da identidade humana, preconizado pela ONU desde 1959 na Declaração Universal dos Direitos da Criança, aprovada na Assembleia Geral das Nações Unidas e fortalecida pela Convenção dos Direitos da Criança de 1989.

Brincar é um direito inalienável da criança, como apregoa a Constituição Federal do Brasil, e a existência da Semana Mundial do Brincar é fundamental para que pais, educadores, lideranças sociais e gestores públicos, compreendam o quanto este direito é negligenciado. Omissão essa, agravada no contexto da pandemia, em que as crianças estão impossibilitadas de frequentar espaços, como escolas, parques e espaços públicos, em que possivelmente o direito ao brincar.

Majoritariamente, os espaços sociais e culturais não são pensados e arquitetado para as crianças, uma vez que elas não possuem ambientes para que sintam acolhidas e integradas.

O mundo digital na contemporaneidade restringe e limita oportunidades de as crianças interagirem e brincarem, fato que gera óbices no desenvolvimento integral e holístico dos infantes, que perpassa pelos aspectos físicos, cognitivos, sociais, emocionais, entre outros.

Quando falamos no brincar, associamos este ato às crianças e às infâncias. Quando pensamos no brincar, nos remetemos à nossa própria infância. Quando defendemos o brincar, cada um evoca as crianças com quem convive. Quando sentimos o brincar ou relembramos o que sentíamos ao brincar, o corpo e a alma relembram o que é ser criança. ”

A citação acima da pedagoga e antropóloga Adriana Friedmann, remete ao pensamento do  autor e historiador holandês Johan Huizinga, em seu livro Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura, publicado em 1938, que refirma a grandeza e a importância do brincar/jogar na vida de todas as pessoas, já que ele nos revela  o quanto o direito ao brincar é inerente à nossa formação humana, e portanto,  deve ser assegurado, defendido e estar na centralidade das políticas públicas de toda a sociedade que pretende ser justa, inclusiva e diversa.

Em linhas gerais, é por meio da brincadeira que a criança aprende! Aprende a ser e a estar no mundo, a conhecer o mundo, a si mesma e aos outros. A criança aprende por meio do jogo simbólico, conhecido pelas brincadeiras de faz-de-conta e representar o real, a partir do que vivencia e imagina. Ela aprende papeis sociais, profissões, e o que mais quiser ela quiser sonhar! Por meio da brincadeira a criança aprende valores e a se relacionar com o mundo: aprende a guardar a vez, regras e combinados sociais, a cuidar de si e dos outros, a função social de muitas profissões na sociedade e a importância de cada uma delas. Por meio da brincadeira a criança aprende cidadania, aprende a se locomover, a desenvolver seu sistema motor pela infinidade de gestos e movimentos. Por meio da brincadeira a criança aprende o que existe na sociedade e o que não existe, mas que ela poder criar, imaginar. Ela vivencia e se organiza na realidade em que está inserida. E através da imaginação, pois é brincadeira, aprende a transitar e diferenciar os mundos reais e ficcionais. Por meio da brincadeira a criança conhece e reconhece o mundo. Por meio da brincadeira a criança existe e resiste!

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Vanessa Pupo, diretora da Rede Municipal, atua no Fórum de Educação Infantil de Piracicaba (FEIPIRA) e membro do Conselho Político e Social do Mandato Coletivo A Cidade é Sua (PV)

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