Um outro olhar

Sergio Paulo Martins Nascimento

 

Mas Judas Iscariotes, o discípulo que em breve trairia Jesus, disse: “Este perfume valia trezentas moedas de prata. Deveria ter sido vendido, e o dinheiro, dado aos pobres”. Não que ele se importasse com os pobres; na verdade, era ladrão e, como responsável pelo dinheiro dos discípulos, muitas vezes roubava uma parte para si. Jesus respondeu: “Deixe-a em paz. Ela fez isto como preparação para meu sepultamento. Vocês sempre terão os pobres em seu meio, mas nem sempre terão a mim”. Evangelho de João 12:4-8. “Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Venham, vocês que são abençoados por meu Pai. Recebam como herança o reino que ele lhes preparou desde a criação do mundo. Pois tive fome e vocês me deram de comer. Tive sede e me deram de beber. Era estrangeiro e me convidaram para a sua casa. Estava nu e me vestiram. Estava doente e cuidaram de mim. Estava na prisão e me visitaram’. “Então os justos responderão: ‘Senhor, quando foi que o vimos faminto e lhe demos de comer? Ou sedento e lhe demos de beber? Ou como estrangeiro e o convidamos para a nossa casa? Ou nu e o vestimos? Quando foi que o vimos doente ou na prisão e o visitamos?’. “E o Rei dirá: ‘Eu lhes digo a verdade: quando fizeram isso ao menor destes meus irmãos, foi a mim que o fizeram’. Mateus 25:34-40.
Nestes dois textos bíblicos dos evangelhos de Joao e Mateus, parece existir um paradoxo na fala do Cristo. No primeiro texto, o de Joao, Jesus reprende a “boa” intenção de Judas, quando afirmou que seria muito melhor a mulher ter usado os recursos que poderiam advir da venda do perfume, aos pobres e necessitados, do que ter derramado sobre o Cristo, claro que sua “boa, má intenção”, era outra a de se beneficiar de maneira escusa da venda dele. Jesus afirma que os pobres sempre estariam presentes, porém ele não. Parece com isso que Jesus insinua que nada deve ser feito pelos pobres.
No outro texto, o de Mateus, um texto escatológico, Jesus afirma, contudo, que ao darmos de comer ao que tem fome, água ao que tem sede, roupas aos nus, hospitalidade aos estrangeiros, aos de fora de nossa parentela, cuidar amorosamente dos enfermos e ser solidário com os que estão presos, afirma que a Ele fazemos. Portanto, são textos complementares, não é porque teremos sempre o pobre conosco que nada devemos por eles e com eles, pelo contrário, ele nos motiva a fazer como se estivéssemos fazendo para o próprio Cristo. Em outras palavras, ele diz: se você ainda não entendeu que deve amar e cuidar dos pobres e mais necessitados, faça por mim, como se fosse para mim mesmo e na verdade o é afinal, todos fomos criados a “Imago Dei”.
Tristemente percebo que, mesmo em meio à pandemia em que vivemos, o aumento dos desabrigados, dos sem-teto, da mendicância, do empobrecimento do nosso povo, e pouco se tem feito para mitigar esta situação. Entendo que este não é papel exclusivo do poder publico, é em grande parte dele também, porém todos nós temos que ter este outro olhar que o Cristo exorta a termos, se não fizermos pelos pobres, façamos para eles, como se fosse ao próprio Cristo.
Precisamos mais do que nunca sermos solidários uns com outros, menos beligerantes e mais amantes uns dos outros. Precisamos nos unir, poder publico, entidades sociais, da sociedade civil, empresários, para realizarmos este cuidado de forma coordenada para que ninguém fique de fora. Que o Cristo nos abençoe.

______
Rev. Sergio Paulo Martins Nascimento, pastor presbiteriano, presidente da APFP (Associação Presbiteriana de Filantropia de Piracicaba – APFP)

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima