Barjas Negri
Faleceu recentemente o arquiteto Paulo Mendes da Rocha que, junto com Oscar Niemeyer, se destacou nos cenários nacional e internacional recebendo importantes prêmios em reconhecimento pelo seu trabalho. São, ambos, motivo de orgulho da arquitetura brasileira e de todos os brasileiros.
Os dois visitaram Piracicaba e, em especial, o Engenho Central. Oscar Niemeyer na gestão do prefeito João Herrmann Neto e Paulo Mendes da Rocha, na nossa. Ficaram maravilhados com a arquitetura e o patrimônio histórico da cidade, sugerindo que o setor público, em parceria com o privado, lá fizesse bons investimentos ao longo de muitos anos, dada sua grandeza e complexidade.
Ocorre que a regularização dos débitos, cerca de R$ 30 milhões em precatórios devido à desapropriação daquele bem, ocorreu em nossa gestão como prefeito, o que permitiu a obtenção da escritura definitiva para o município, feito que abriu a possibilidade de novos investimentos, o que efetivamente ocorreu.
No caso específico de Paulo Mendes da Rocha, ele aqui esteve para dar uma palestra sobre as possibilidades de restauração e modernização do Engenho Central e também das alternativas de investimentos e participação do setor privado. Entre as várias sugestões, citou a construção de um hotel, restaurantes, museu, teatro e outros serviços culturais para dar mais vida e sustentabilidade ao espaço. Naquela ocasião, alguns participantes não concordaram com suas ideias, chegando, de forma deselegante, a hostilizar o palestrante, que veio à Piracicaba, a convite, para apresentar suas propostas para uso daquele patrimônio.
Ele achou natural essas reações contrárias, mas destacou para mim que esse era o caminho a ser seguido. Bastava ver as boas experiências europeias. Ele me abraçou e disse: “prefeito, vou lhe dar uma sugestão: para que a recuperação e modernização do Engenho comece e possa incentivar outros investimentos, faça primeiro o piso, colocando toda infraestrutura subterrânea, inclusive fiação e rede de telefonia. Isso vai valorizá-lo, permitindo a presença de muita gente para visitas e passeios principalmente idosos, mulheres gestantes e cadeirantes. A partir daí, outros investimentos virão”.
Foi exatamente o que fizemos depois de muito debate e planejamento com a equipe de secretários e os servidores municipais. Começamos com a implantação de 20 mil m2 de piso intertravado, permitindo a realização de eventos com grande presença de público como a Festa das Nações, shows, encontros, eventos religiosos e festivais como o do Circo, entre outros.
Depois disso, começaram os novos investimentos como no Armazém “Henfil” do Salão de Humor, o Teatro Erotídes de Campos, a 1ª etapa do Museu da Cana, a passarela estaiada que, junto com a passarela pênsil, aproximou o Engenho da área central da cidade pela margem esquerda do rio Piracicaba e tantos outros. Se hoje são discutidos novos e importantes planos para uso do Engenho Central, devemos muito às contribuições de Paulo Mendes da Rocha, que, na ocasião, esteve acompanhado do empresário Rubens Silveira Mello – conhecido como Binho, atual presidente do Conselho da Raízen, grande incentivador de investimentos naquele espaço, principalmente no Museu da Cana, projeto que foi iniciado muitos anos atrás e um tema que trataremos em outro artigo.
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Barjas Negri, ex-prefeito de Piracicaba