Missão cumprida

José Maria Teixeira

 

Na Comissão Parlamentar de inquérito (CPI) criada e instalada para investigar a atuação do governo Bolsonaro na pandemia do coronavirus, Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, causou espécime e revolta nos interlocutores ali, presentes e por certo nos que acompanhavam o seu depoimento pela televisão.

Interrogado sobre a causa de sua saída do ministério, respondeu, como no dizer popular, na lata: “missão cumprida”. Nesta hora, subiu a temperatura. Estourou o termômetro. Como? O Ministério da Saúde é o órgão que, em qualquer governo, assegura e protege a vida dos governados. Neste episodio de pandemia, Pazuello, general da ativa, estrelado que não é medico e chamado, assume o cargo. Até, então, o numero de mortes pela Covid-19 era de aproximadamente oitocentas por dia, o que já era um horror. Dez meses depois, o respectivo ministro deixa o cargo com o numero de duas mil e setecentas mortes dia num total de trezentos e tantos mil óbitos na sua gestão.

Daí, não há como lhe negar o galardão de missão cumprida. Talvez, nas quinze ou dezesseis horas de depoimento, seja esta a única verdade dita por ele: “Missão Cumprida”. Seus dois antecessores desistiram ao ver o tamanho da cobra. O atual finge de cego e acompanha o presidente pelo país como caixeiro viajante promovendo a cloroquina já demonstrada como inadequada para o tratamento dessa doença coronavirus e com efeitos colaterais perigosos.

O mais triste é que se diz medico agindo sob a complacência do Conselho Nacional de Medicina. Não se alegue aqui a autonomia medica. Pois agir contra a ciência neste âmbito é crime. Contudo, em que pese o assombro da contradição ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuelo, cabe o reivindicado galardão de missão cumprida. Pois, não se pode esquecer que o ex-ministro cumpriu fielmente  parte do projeto do governo de Jair Messias Bolsonaro, ou seja: “ destruir o Brasil pela morte”.  Este projeto, anunciado em campanha, está em curso pelo governo eleito. A pandemia do coronavirus não prevista é grande facilitadora do projeto do governo Jair Messias Bolsonaro: “Destruir o Brasil pela morte”. Aos senhores senadores e senadoras, não assiste o direito à memória curta e muito menos o não entender a linguagem dos faros para lamentar o que ai está negando o galardão da “missão cumprida”.  Senhoras e senhores do Congresso Nacional, não se esqueçam dos gestos ameaçadores de mãos metralhando o público em comício na Avenida Paulista. Até então, uma ameaça. E agora a liberação e facilitação para aquisição de armas a granel até mesmo com isenção de tributos.

Que dizer, senhores e senhoras do Congresso, da Fundação Nacional do índio (Funai) atuando contra os próprios índios, não  demarcando suas terras. Que dizer da Fundação Palmares, paralisada quanto à regularização dos quilombos, faltando ainda uns trezentos. Tirar ou impedir o acesso à terra a esses povos é, sem dúvida, ceifar-lhes a vida. O projeto de destruir o Brasil pela morte envolve tudo sem falar nas fontes de energia vendidas como se compra sorvete nos estádios.  Plataformas de petróleo, hidroelétricas. Vejam nossa floresta devastada pelo fiel cumpridor se sua missão Ricardo Salles, talvez foco de uma próxima CPI. Tudo isso, senhores e senhoras do Congresso, seria muito diferente fossem os senhores e senhoras independentes de si mesmos fiéis à Constituição cidadã que juraram solenemente cumprir.

Contudo, a conveniência e conivência revelando a fraqueza da personalidade de cada um condenando a si mesmos pela omissão na função sagrada de que estão constitucionalmente revestidos: “zelar pela nação  brasileira”.  Senhoras e Senhores do Congresso, ainda é tempo; com instrumentos ao alcance de suas mãos, cumpram a sua missão e salvem o Brasil da destruição pela morte estancando o presidente da Republica  Bolsonaro.

E então, e só então, digam para todo Brasil em alto e bom som que há missão cumprida.

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José Maria Teixeira, professor

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