Brasileiros ou jacarés?

Pedro Kawai

 

As mortes precoces de Paulo Gustavo e Bruno Covas provocaram uma comoção nacional, como há tempos não se via no país. Talvez, porque eram figuras públicas que transitavam quase que diariamente pelos noticiários, nos dando a impressão de serem praticamente da nossa família. Mas, o que falar das 437 mil pessoas, vítimas fatais da ação devastadora do novo Coronavírus?

Desde o início de 2020, o Brasil já enterrou mais pessoas do que a população inteira de Piracicaba. Uma tragédia mundial, mas que no Brasil ganhou proporções ainda maiores, dada a omissão das autoridades que deveriam, constitucionalmente, zelar pela vida de todos os brasileiros, independentemente do tom da pele, da religião que professam ou da corrente ideológica com a qual se identificam. Todos somos brasileiros, todos temos o direito à vida – pelo menos deveríamos ter.

Se assim pensassem os que definem os destinos do país, talvez os médicos não tivessem a dolorosa incumbência que escolher quem vive ou quem morre quando não há UTIs para todos, diante do caos que se tornou o sistema público de saúde na maioria das cidades brasileiras, durante o pico da segunda onda da Covid-19: falta de leitos, falta de respiradores, falta de anestésicos, falta de oxigênio etc.

Assim como a vacina, o que está em falta no Brasil é a empatia, capacidade que temos (ou deveríamos ter) de nos colocar na condição do outro, de sentir as dores do próximo, de nos comover com a dor da perda das milhares de famílias que sequer puderam se despedir de um parente ou amigo. O que aconteceu com o povo brasileiro? Aonde foram parar aquelas pessoas que se emocionavam com tragédias como a de Mariana (MG), ou as devastadoras enchentes em Santa Catarina, os deslizamentos dos morros no Rio de Janeiro, e tantos outros eventos mobilizavam a sociedade para campanhas de solidariedade?

Banalizou-se a empatia. Transformaram um sentimento nobre em “mimimi”, em “patifaria”, como se fôssemos obrigados a nos comportar como militares em curso de sobrevivência na selva. Não somos isso! Somos um povo sofrido, que, historicamente sempre foi saqueado em suas riquezas e direitos sociais. Não temos o preparo psicológico para lidar com a perda como se uma vida fosse apenas um dado estatístico. Não! Este não é o Brasil que cantávamos orgulhosos com a mão no peito em partidas da Copa do Mundo ou nas inesquecíveis vitórias do nosso último herói esportista, Ayrton Senna.

Precisamos do nosso país de volta. Não é correto que sejamos divididos pelo ódio, pela intolerância e pela ignorância que gera violência e dor.

A sociedade está doente, e não é apenas em decorrência da Covid-19. Está doente na alma. Maus exemplos estimularam a prática do “salve-se quem puder”, do “eu quero, eu posso”, do “que se dane” e do “se ele pode, porque não posso?”. Sentimentos pequenos que destroem a possibilidade de compaixão, de solidariedade, de fraternidade e da empatia. Enfim, precisamos de uma vacina para purificar os nossos corações e trazer de volta o verdadeiro patriotismo, capaz de nos unir para um só objetivo: transformar novamente esse país em uma nação.

Por fim, utilizando as palavras do discurso de posse do já saudoso prefeito de São Paulo, Bruno Covas, “é possível fazer política sem ódio, e falando a verdade”.

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Pedro Kawai (PSDB), vereador em Piracicaba

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